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Mostrando postagens de 2014

Homem sem poesia

A poesia suspirou de dó quando viu um homem sem sonhos. Rapidamente abriu seu baú de recordações e entregou ao homem algumas lembranças. A primeira era de um menino catando ingá num campo. O homem sem poesia sorriu, lembrou da infância. A segunda era de um rapaz tentando ganhar um beijo da moça. O homem corou, baixou os olhos como quem lembra. A terceira era de um homem sem rosto, largado ao acaso. Errando como quem sabe. E então os olhos ameaçaram uma lágrima. A poesia então suspirou e lançou a seguinte pergunta: Então, é isso que faz com seu passado? E o homem sem poesia chorou. E cada gota tornou-se o refúgio que depois tornou-se abrigo pra coração mais que sofrido. O homem só não via porque lhe faltava poesia.

Flores murchas

Foto: Patrícia Caetano Despertei! Encontrei as flores murchas  e o vento que soprava minhas dores varreu quase toda uma vida.

Insolente

Sua face nos remete a imagem frágil Que mais se assemelha a uma fada Mas olhando sua mente bem de perto Se conclui que de frágil não tem nada. É o óbvio que engana nossos olhos Como miragem no deserto entediante É o encanto que dos teus olhos Se apresenta mais distante. E quando são soprados os seus cachos Pelo vento que machuca a pele rosa Sua outra face surge imponente, Então o inesperado se revela: E do céu cinzento eis que nos surge, a face oculta de um anjo insolente!

Um ser em poesia

  Foto: Patrícia Caetano _Queria ser tocado de poesia_ disse ele à menina poetisa. E confidenciou mais: -Queria um pouquinho de ti. Mais tarde falou outra vez: _Quanta inspiração você tem! Mas o que ele sabia e talvez não sabia, era que seu ser  já era um ser em poesia!

Plantando e colhendo

Foto: Patrícia Caetano Estava plantando incertezas quando ela surgiu. Olharam-se por um segundo. Ele colheu uma dúvida em seu jardim e pôs na mão dela. Ela lançou a semente da vida naquela terra alheia. Ele todo sem jeito, com a mão suja de terra. Os olhos desavisados pousaram com mais precisão na face da moça. Ela completa de amor, foi ficando mais tempo. Ele notou que a semente brotava. Ela sabia desde o início. Ele depois entendeu que bastava acreditar. E que tudo que se cuida mais vida irá ganhar.

Composição

Foto: Patrícia Caetano Estava preenchido de vazio. Daqueles que mais sufocam a alma. Tentou segurar numa ponta de esperança. Não conseguiu. E como se fosse feito de infinitos saltou do monte mais alto.

Ansiedade

Ontem chorei o dia de hoje. Acabei  sufocada de antecipação.

Despedida

Estavam como hipnotizados, olhando um para o outro parados, tentando eternizar o instante. O último momento em que se veriam. Seguravam as mãos um do outro, Não sabiam o que dizer. Ela não queria partir, Ele não queria deixá-la. O trem já estava avisando que a hora avançava. Ele quis ajudá-la foi deixando suas mãos e se afastando aos poucos, Ela se via mais triste. Ele deixou escapar uma lágrima E ela segurou firme o choro. Eram agora distancia. Ele foi sumindo ao longe.. Ela parada olhando. Ele não voltou a face para trás. Ela embarcou e partiu. Foto: Patrícia Caetano

Decepção

Decepcionou-se de todo. Olhar cabisbaixo quase chorando foi ter com o namoradinho conversa definitiva. Pegou a sacola de pano, colocou as cartinhas recebidas ao longo dos meses, o anel que veio num doce e a pedra que ganhou naquela noite bonita. Também colocou a flor seca que ele meio sem jeito pôs nos cabelos dela numa tarde de primavera. Naquele dia, disse pra ela que a flor era como parte dele. Calçou os sapatos de passeio, vestiu o casaco de lã, pôs a sacola nos ombros e foi. No caminho entre uma lágrima e outra, olhava pro lado. Então viu a árvore sob a qual recebeu aquela flor tão perfeita. Mais adiante, o gramado em que ficaram deitados vendo o luar enquanto ele a presenteava com  a pedra mais linda. Logo depois, tocada de ternura, caminhando já meio sem rumo, parou de chorar. Voltou sorriso bonito. _Até que não era tão grave _pensou. E assim aprendeu de uma vez por todas o significado da palavra 

Encontro

Foto: Patrícia Caetano Queria que tudo fosse perfeito! Tentou puxar a lua com um pedaço de corda encontrada no armário, de modo que o astro iluminasse mais a sacada na hora do beijo. Não deu. Depois foi ter com as estrelas, resolveu pelo diálogo mesmo, pediu que chegassem mais perto, mas elas estavam um tanto ariscas  naquela noite. Por certo sofreram alguma desilusão. Não insistiu. Magoado também, pela falta de apoio debruçou-se na sacada, os olhos marejados, ficou olhando pra cidade. Até que lá do alto viu sua amada chegar. Iluminou-se todo outra vez. A lua parecia esplêndida boiando no céu e as estrelas pareciam dançar a mais linda valsa. Ficou cheio de amor.

Era um dia especial

Foto: Patrícia Caetano Levantou cedo, mas viu que o dia  amanhecera fechado a conversas. Estava todo nublado. O menino saiu para comprar pão, na padaria olhou fundo para o atendente na esperança de que dissesse algo. Nada! Depois voltou para casa, a mãe ocupada demais, o pai já havia saído. Nem o cachorro lhe lambera a face dessa vez. Realmente era um dia nublado! Pensou: Triste aquele que espera, pois longa é a jornada. Mas domingo é dia de futebol e lá foi em direção ao campo. Suou, cansou, caiu, levantou e voltou carregando o sol que já ia se recolher. Primeira decepção: Ninguém lhe dera os parabéns por mais um ano de vida.

Imensidão

A lua pediu a uma estrela que se aproximasse: _Ei, chega mais perto, não cansa dessa imensidão? A estrela quase nova olhou para aquela bola flutuante e disse:  _ Veja, somos feitos de imensidão. Sem ela restaria o nada. A lua tentando se equilibrar não soube precisar o quanto de imensidão cabia em si. Olhou para um lado, olhou para o outro e pôs-se a ver navios.

Dois corações

O rapaz de rosto amigo segurou nas mãos da mocinha e disse: _ você brotou rosas em meu coração! A moça de olhar iluminado  pelo elogio inesperado, olhou bem para o amado e disse: _ Você me preencheu de certezas! Os dois de mãos dadas, parados de frente pro mar não precisaram de muitas palavras,  sílabas e letras não fariam diferença. A lua foi testemunha: Era um coração brotado de flor e um ser preenchido de certezas.

Ampliando horizontes

Foto: Patrícia Caetano        A professora disse que o menino precisava ampliar seus horizontes. Assustado foi ao médico, pediu receita de óculos pra enxergar de longe.

Especialista em corações

Era especialista em consertar corações desiludidos: assim era conhecido. Apertava aqui, ajustava acolá, pronto, coração consertado! A senhora desapontada com o esposo gritava na porta: _Por favor livra-me dessa dor! Ele prontamente atendia. E ela saia feliz, como quem sorria pela primeira vez. A mocinha chorando pelo amado que a iludiu era logo remediada e tudo voltava a florir. Até que um dia, bateu a sua porta um jovem de olhar cansado, talvez duvidoso. Trazia consigo um saco nas costas. Entrou, sentou-se, abriu o saco e pôs-se a tirar um a um os seus arrependimentos. O moço, especialista em corações, ficou olhando assustado. Não soube o que fazer, de corações arrependidos ele definitivamente não entendia. E os dois sentados lado a lado, aprenderam que nem tudo nessa vida pode ser consertado.

Silêncio e nada

                            Foto: Patrícia Caetano                                   Conversávamos sobre tudo, o tempo, as árvores, a vida. Eu, especialista em nada, ele, dado a normalidades. Eu via o horizonte e versejava. Ele via o rio e nadava. Éramos unha e carne. Eu sonhava em expandir as ideias, ele em diminuir possibilidades. Eu me via na lua, nas estrelas, ele na terra, no ar... na fonte. Até que súbito veio o silêncio e mudou o que era UNO. Passamos a ver os opostos, nos tornamos peritos em distâncias e o nada tornou-se profundo. Assim, silêncio e nada causaram impacto, somaram-se para vazio. E o que antes era tudo, transformou-se em evidências. E assim as evidências, como duas inimigas, avistaram a encruzilhada, tomaram caminhos distintos.

De volta pra casa

Estou mais perto de casa do aconchego que acalma, da chuva tranquila durante o dia, das paredes úmidas e do café quentinho que tem mais sabor no lar. Das janelas que escondem segredos a meia luz. Ouço a música tocando minha alma o cello chorando amável de contentamento e resignação, de alguém que volta pro lar. Não há mais pressa, estou no caminho exato. O olhar sereno e a canção mais bela compõem o retorno estou mais perto de casa sorrio. Foto: Patrícia Caetano

Muito pra dizer...

Pois é, tenho muito o que dizer, não porque eu seja professora, e bato no peito pra dizer isso, mas não vou ficar enchendo a cabeça das pessoas com aulinhas baratas na mesa de jantar. Ainda que meus trinta e quatro anos tenham me proporcionado algumas experiências, elas servem só pra mim. Pois é, tenho muito pra dizer, mas a vida também me ensinou a calar a boca em certas ocasiões. Não vou ficar enchendo a cabeça das pessoas com aulinhas baratas na mesa de jantar. E pra quem ainda acha que fico quieta por não ter o que dizer, Repito: Eu tenho muito o que dizer. Sei um pouco do que a vida me ensinou e, com os anos de estudos diários pra chegar aonde estou. Sou professora sim! E pretendo passar o resto da vida estudando e falando na hora certa, mas pra quem quiser ouvir. Não sou amadora e se eu abrir a boca, muita água vai rolar! Mas prefiro meu o silêncio, pois ele é o respeito que tenho por sua ignorância !

O tempo e a música

       Hoje andei pensando nas canções que embalaram minha adolescência, lembrei de Raul Seixas morto durante minha infância e de Gabriel o Pensador que apesar das letras incríveis que escreve, não vejo muita gente ouvindo. Aos treze anos já me pegava cantando alguns trechos das músicas de ambos e, hoje me bateu uma saudade da canção "Ouro de Tolo" de Raul: É você olhar no espelho se sentir  um grandessíssimo idiota saber que é humano ridículo, limitado que só usa dez por cento de sua cabeça animal.         A vontade é de transcrevê-la na íntegra, mas é desnecessário e, confesso um tanto quanto inútil. Hoje o que se ouve está muito longe de dizer algo. Claro, tem muito idiota cultivado pelo sistema que pode questionar afirmando que as músicas possuem letras sim, mas o que estou dizendo é que, a maioria das "canções" está longe de expressar algum significado importante. Dentre as que mais tocam, a propósito em alto e bom som, estão as que ridicula