Cada nota, um incentivo de por fim ao pesadelo. Deitada em sua cama desarrumada, ouvindo Beethoven, refletia sobre a dor, e constatava que era em si uma soma de sensações, medo, ansiedade, insegurança... O computador ligado, e-mail, trabalhos por fazer, a roupa esperando pra ser torcida, o estômago vazio. Era um dia nublado, dos que mais a instigava a escrever, a sonhar, a ser somente ela e nada mais. Dias em que podia fazer o que mais gostava, pensar. O criado mudo, recheado de livros por ler, a vida tentava seguir e ela não. O que desejava era parar, sempre parar, para ela era preciso descansar o pensamento, senão se perdia. Mas hoje não era um daqueles dias, enquanto o ventilador se fazia de chuva, ela se fazia de forte. Ficou imaginando quem a encontraria em sono profundo e a tocaria primeiro, quem a conduziria porta afora, quem choraria acariciando seus cabelos, afagando suas mãos nuas? Seria um dia só dela, flores, cheiros evitados em vida, gente saudosa amando e contand